Que coisas
desastrosas são os maria-vai-com-as-outras. Há muitas pessoas desse tipo neste
mundo! Eu, inclusive, já contara a história de um Juquinha-Piolho, fino
representante dessa abundante espécie.
Agora, nesta
fábula, o nome da personagem até coincide com o primeiro nome da alcunha
popular dessa classe de viventes: chamava-se Maria.
Por causa da
mania de não resistir a chamados e conselhos de qualquer um, já se metera em
muitas confusões. Algumas tristes, outras hilariantes, outras ridículas, outras
trágicas e, de vez em quando, se engamelava em algumas que eram o misto de tudo
isso.
Certa feita, a
pedido de um amigo, atirou água quente em um casal de cães que copulavam. Que
coisa horrível e sem graça interromper coitos abruptamente, sobretudo os dos
pobres animais que não devem respeito à moral alguma.
Em outra
ocasião, a conselho alheio, cutucou, com uma vara curta e fina, o sob-rabo de
uma égua que pastava tranquilamente. Recebeu, como recompensa, um coice nas
canelas.
Houve um dia
em que andou pelada pelas ruas, porque, pasmem, acreditou nas colegas que lhe
juraram piamente terem vestido nela uma roupa somente invisível para quem a
usava.
No ano
passado, quase reprovou de série. Ficara trinta dias internada no
pronto-socorro e outros tantos de molho em casa. Uma colega lhe aconselhara a fazer o jogo
da “chicken”. Detalhe: ela estava de bicicleta e o oponente de caminhão. Quase
virou pastel de galinha (não se avexem, não tomem galinha pelo que talvez vocês
estejam pensando: a nossa menina não era dadivosa – é que, pelo jogo, quem
saísse da frente primeiro, dando passagem ao outro, seria a galinha; ela,
felizmente, para que a desgraça não fosse total, conseguiu, de último instante,
curvar-se à direita e evitar o choque frontal; coitadinha! só quebrou as pernas
e a bacia: coisa de somenos importância, nada que um ortopedista João-paulino
não pudesse consertar).
Mas nada disso
chegou perto do que ela, recentemente e pela última vez, fora capaz de fazer
por conselho dos queridos amigos. Foi a Claudinha quem falou:
- Mana Maria,
ontem assistimos um filme que um homem tomava um remédio e morria. Mas só por
alguns minutos. Depois ele voltava à vida. Sãozinho em folha!
E convenceram
a pobrezinha de que elas tinham conseguido a tal poção e Maria deveria tomá-la.
Tadinha, nem sabia o que era o Auto da Compadecida.
- Veja, Maria,
você toma o remédio e morre por alguns minutos. Vê nosso Senhor Jesus Cristo, fala
com ele e pode até pedir algo de especial.
Se Maria falou
com Jesus, não se sabe, pois notícia comprovada do outro mundo ainda não se
teve. Mas, se conseguiu tal feito, o Nosso Senhor, usando uma expressão tão ao
gosto do nosso Machado, deve ter dito:
- Menina,
qualquer dia destes, dou-te um piparote. Vá ser jega assim na p.q.p.!
Elio Oliveira Cunha