segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Que menina!

Que coisas desastrosas são os maria-vai-com-as-outras. Há muitas pessoas desse tipo neste mundo! Eu, inclusive, já contara a história de um Juquinha-Piolho, fino representante dessa abundante espécie.
Agora, nesta fábula, o nome da personagem até coincide com o primeiro nome da alcunha popular dessa classe de viventes: chamava-se Maria.
Por causa da mania de não resistir a chamados e conselhos de qualquer um, já se metera em muitas confusões. Algumas tristes, outras hilariantes, outras ridículas, outras trágicas e, de vez em quando, se engamelava em algumas que eram o misto de tudo isso.
Certa feita, a pedido de um amigo, atirou água quente em um casal de cães que copulavam. Que coisa horrível e sem graça interromper coitos abruptamente, sobretudo os dos pobres animais que não devem respeito à moral alguma.
Em outra ocasião, a conselho alheio, cutucou, com uma vara curta e fina, o sob-rabo de uma égua que pastava tranquilamente. Recebeu, como recompensa, um coice nas canelas.
Houve um dia em que andou pelada pelas ruas, porque, pasmem, acreditou nas colegas que lhe juraram piamente terem vestido nela uma roupa somente invisível para quem a usava.
No ano passado, quase reprovou de série. Ficara trinta dias internada no pronto-socorro e outros tantos de molho em casa. Uma colega lhe aconselhara a fazer o jogo da “chicken”. Detalhe: ela estava de bicicleta e o oponente de caminhão. Quase virou pastel de galinha (não se avexem, não tomem galinha pelo que talvez vocês estejam pensando: a nossa menina não era dadivosa – é que, pelo jogo, quem saísse da frente primeiro, dando passagem ao outro, seria a galinha; ela, felizmente, para que a desgraça não fosse total, conseguiu, de último instante, curvar-se à direita e evitar o choque frontal; coitadinha! só quebrou as pernas e a bacia: coisa de somenos importância, nada que um ortopedista João-paulino não pudesse consertar).
Mas nada disso chegou perto do que ela, recentemente e pela última vez, fora capaz de fazer por conselho dos queridos amigos. Foi a Claudinha quem falou:
- Mana Maria, ontem assistimos um filme que um homem tomava um remédio e morria. Mas só por alguns minutos. Depois ele voltava à vida. Sãozinho em folha!
E convenceram a pobrezinha de que elas tinham conseguido a tal poção e Maria deveria tomá-la. Tadinha, nem sabia o que era o Auto da Compadecida.
- Veja, Maria, você toma o remédio e morre por alguns minutos. Vê nosso Senhor Jesus Cristo, fala com ele e pode até pedir algo de especial.
Se Maria falou com Jesus, não se sabe, pois notícia comprovada do outro mundo ainda não se teve. Mas, se conseguiu tal feito, o Nosso Senhor, usando uma expressão tão ao gosto do nosso Machado, deve ter dito:
- Menina, qualquer dia destes, dou-te um piparote. Vá ser jega assim na p.q.p.!


Elio Oliveira Cunha