quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

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Por que procuras?

Elio Cunha

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

As mulheres lindas

As mulheres lindas têm um olhar como que triste,
Pois sonham que o mundo fosse igual a elas.
Um sem-número de rosas a todos os cantos,
Eternas canções de primaveras.

As mulheres lindas têm um gesto como que esquecido,
Pois desejam que os amantes fossem como as folhas em outono,
Como as notas de um violão plangente
Que somem no luar evanescente

As mulheres lindas têm um toque como que findo
Pois querem que os encontros fossem como o vento que está indo
Como um halo de estrela cadente
Como o vermelho odor dos vinhos noturnos

As mulheres lindas têm um amor como que espinho
Pois precisam que os enlaces fossem como que picantes
Como veneno quase mortal, mas efêmero
Como, ao perfurar o peito, o rútilo do gládio lancinante.

As mulheres lindas têm um suspiro como que de deusas,
Pois sentem que o êxtase fosse como que pedaços de céus,
Como a entrega de Vênus aos seus recônditos caprichos
Em seus enleios que não deixam laços.

As mulheres lindas, por serem lindas, têm um adeus como que nunca foi
Pois sabem que ficam para sempre, mesmo que sejam um raio na tempestade
Como que mulheres lindas, pois são lindas,
Despedem-se a cada instante que nos encantam, com doce sabor de maldade. 

Elio Cunha

Porque estava sentado esperando e era sexta-feira à tarde

Um vigor repentino com estrépito
Como se fosse dia de feira
Mas é domingo
E nem há mar para praia
Nem vento para pepeta
Que fazer?
Sentar-se em um banco de praça
Ler um romance
Um jornal
Um poema velho
Ver as moças que passam
O dia que se vai
Espantar as moscas
Enxugar o suor
Que fazer?
Cuspir no chão?
No prato que come?
Que fazer?
Um dia de sol sem nuvens
Um dia muito quente
De pouca intenção para nada
Que não fosse deixar de fazer alguma coisa
Coisa sem sentido
Estabanada não
Parada
Que nem água de lagoa morta cheia de mau-cheiro
Um dia como um dia de feira sendo domingo para não fazer nada sem vento
nem praia
Que fazer?
- Não há de que senhora, estou aqui lendo e sempre atravesso velhinhas cegas, a rua é braba de carro
- Que bom que a mocinha pensa assim, era sim, sim era um grande poeta, morreu de queda de cavalo
Que fazer?
Se ao menos houvesse... o quê? O que mesmo?
Falta algo falta o que não sei o que é
Mas é domingo de galinha caipira na panela
Família reunida
Povo falando besteiras alto
Gritando gol tomando cachaça cerveja refrigerante
Macarronada?
Em algumas casas: aqui não tem muita gente de se vangloriar da Itália
Aqui muito tambaqui na forma recheado de chicória tomate cebola
E também na grelha
Jatuarana assada pingando de gorda
Farinha d’água
Caldo de pacu
Piranhas
Como há
Pra caldos e safadezas
Terra boa de fartura muita
Que fazer?
Domingo com cara de feira
Só no vigor
Que mentira!
Dia de feira é ruim
Muita canseira
Quem gosta da segunda?
Há até notícia do homem que matou uma
Mas neste domingo não sei o que fazer
Que fazer?
A agitação era grande os operários e camponeses e soldados estavam insatisfeito
Não foi difícil a aliança
A coisa explodiu e expandiu para longe e distante no tempo
A experiência não deu certo?
Quem disse?
Houve muito sofrimento
Mas tivemos muita alegria
Nos comprazemos em ver a desarrumação na cabeça dos que se achavam donos do poder
Modificamos o mundo
Chegamos a Ilha
Estamos na Ilha
Orgulho e raça vermelha
Que fazer?
Que fazer com um domingo que nos leva para onde não sabemos o que é
Vou fechar a capa do livro que não abri
E encerrar o que não foi escrito
Fim
Que fazer?

Elio Cunha

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Ogano

Talvez o vindouro seja melhor
E nem precisarei vestir branco no reveillon

O espumante de maçã estará envelhecendo na adega das recordações


Elio Cunha

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

0 + 0 + 0 + 0 = ? (zero), logo...

Há invernos na estação
Com palavras
Ditas entre palavras sem encontro
Como se nada existisse
Perambulando estradas contínuas
Repetidas

Do nada nasce algo?
Se não, a resposta sempre houve
E por que a perguntamos?
Por que queremos saber o que sempre aí esteve
Colocado entre nuvens e nuvens e nuvens
Numa repetição sem fim?
Porque tudo o que fazemos de novo
Novo não é
É tão antigo que nem começo teve
Que nem fim terá

Elio Cunha