quinta-feira, 14 de junho de 2018

Guardados


Em 2009, na escola Flora Calheiros Cotrin, uma aluna do 8º ano “F” entregou-me um poema para eu ler. Após a leitura, guardei-o comigo. Obviamente com o consentimento da autora. O texto permaneceu guardado e esquecido por dois anos.
No final deste ano, ele foi redescoberto. Um belíssimo presente de Natal que quero compartilhar com os leitores desse blog.
É bom que se diga: está sendo transcrito sem nenhuma modificação. Tudo está igualzinho como a autora o fez. Quem disse que precisa de alterações? Perfeito. Lembrem-se: trata-se de um texto produzido por uma adolescente de 13 anos. Essa é a medida.
Fiquei feliz e envaidecido por ter participado, de alguma forma, da história desse poema. Naquele ano de 2009, desenvolvi um projeto de produção de textos poéticos. Alunos que nunca tinham escrito uma poesia puderam experimentar, como autores, a mais sublime arte da palavra escrita. Criamos blogs e publicamos textos. “Solidão”, de Jéssica Caroline, é um poema que surgiu desse trabalho. Não foi escrito em sala de aula, mas é uma planta que brotou de sementes lançadas em campos lavrados, em certa medida, pelo labor pedagógico.


Solidão

Aqui estou
No canto deste quarto
Escuro e gelado
Ou será solidão?
Às vezes sinto vontade
De dizer “oi”
Dizer “oi”?
Para quem
Se estou sozinha?!

Minha garganta arranha
Com uma louca vontade
De gritar
Quem vai me ouvir
Se estou sozinha?!

Esta casa é tão...
Gelada, escura e sombria
Ou será a solidão?
Sinto um arrepio
Tenho muito medo de ficar
Assim pra sempre
Tão sozinha
Sem ninguém para dizer
Alguma coisa
Só as paredes rabiscadas
Com escritos
De uma alma atormentada
Pela solidão

Talvez eu deva tomar alguma atitude
Levantar desse chão molhado de lágrimas
Abrir as janelas e deixar o sol entrar
Não posso
Porque toda vez que abro
Sinto um nó na garganta
Uma dor no peito
Uma tristeza sem tamanho
Abro as janelas
E vejo o que já esperava
É inverno
O sol foi embora
E me abandonou
Tarde demais
Estou sozinha
Talvez pra sempre
Estou me sentindo
Abandonada e solitária
Fecho as janelas e volto
Para o canto do quarto
E desabo em lágrimas

Quero desabafar
Desabafar?
Com quem
Se estou sozinha?
E agora abandonada


            Um poema encantador e angustiante, não é? E aqui vale dizer que este texto, agora publicado, ficou também guardado, por mais de seis anos. Escrito em dezembro de 2011, somente agora veio a lume. Por isso, o título “Guardados”, a dizer a permanência de recolhimento do poema de Jéssica e deste texto feito à guisa de apresentação e história.



Elio Cunha