De vez em quando, me dá
loucuras de pensar soluções para resolver os problemas deste nosso mundão.
Ultimamente, tem me intrigado bastante o desmantelo que é a educação pública
brasileira. Em todos os cantos e recantos desta Pátria amada. Não preciso exemplificar
para se ter uma idéia de como é. Todo mundo sabe como o troço anda. E não venha
querer me contradizer, dizendo que a coisa já andou pior e que, “devagarim”,
como diz mineiro, estamos conseguindo avançar. O negócio anda mal. O que
pretensamente avançamos significa pouco diante do que precisamos fazer. O
desafio é garantir escola com educação de qualidade para todos. Como fazer
isso?
Em época de campanha
eleitoral, candidatos a cargos de prefeito, governador e presidente gostam de
dizer que vão melhorar a educação. Se você quiser saber se algum deles está
falando a verdade, é só perguntar: “Em sendo eleito, qual será o salário do
professor de ensino fundamental e médio durante seu governo?”. Se ele disser
qualquer valor abaixo de R$ 8.000,00 estará mentido. Mentindo que pretende
melhorar a educação. Se realmente se pretende melhorar a educação neste país,
um professor de educação básica não pode ganhar menos do que OITO MIL REAIS.
Isso mesmo, OITO MIL REAIS, para uma carga horária de 40 horas, incluindo
planejamento de dez horas, é claro. E olha que estou sendo modesto. Isso é só
para começar. Alguém deverá estar dizendo: “Esse cara é um idiota, nem
professor de universidade ganha isso!”. Se um professor de universidade não
ganha esse salário, isso só vem a corroborar minha óbvia afirmação de que a
educação realmente anda mal.
Por que o professor deve
receber essa remuneração? Vejamos. Primeiro, ele precisa viver dignamente:
casa, carro, conforto, comida, bugigangas eletrônicas, lazer, etc.; segundo,
tem que sobrar dinheiro, no final do mês, para comprar bons livros, assinar
duas ou três revistas, assinar um bom jornal, pagar a internet, assinar uma TV
fechada para assistir, entre outras coisas, ao bom futebolzinho do sábado e
domingo; terceiro, quando ele estiver na escola ensinando, não ficar preocupado
com a dívida no mercadinho da esquina, com a energia elétrica que pode ser
cortada a qualquer instante, etc., etc.; quarto, dinheiro é sempre bem-vindo.
E de que forma a melhoria
no salário seria garantia de que a educação iria realmente avançar a passos
largos? Mire e veja. O Estado, pagando um bom salário ao professor, tornaria
cobiçada essa profissão. Quem não iria querer se formar, prestar um concurso
público e ingressar na carreira do magistério? Com isso, haveria uma disputa
por vagas nas universidades públicas para ingresso nos cursos da área da
educação, o que melhoraria sensivelmente a qualidade do alunado que freqüenta
esses cursos, melhorando, consequentemente, a qualidade dos cursos e, em seguida,
a dos profissionais que chegam ao mercado de trabalho. Haveria, também, uma
concorrência maior nos concursos públicos. Somente os feras conseguiriam
passar.
Com uma boa remuneração,
os professores que já são contratados teriam condições de investir mais em sua
formação intelectual e pedagógica. Pagando bem, o Estado poderia exigir que
isso ocorresse. Os técnicos responsáveis pelas cobranças, aproximando-se de um
professor meio relapso, poderiam dizer, em alto e bom som, e não estariam
errados: “O Estado está te pagando bem, meu chapa, portanto, agora você pode
fazer pós-graduação, mestrado, doutorado, etc., e, outra coisa: não queremos
mais saber de lero-lero em sala de aula”. Conhecendo bem os tais técnicos, acho
que, nesse sublime instante, ao proferirem essas palavras, teriam um orgasmo
pedagógico. Se do jeito que a coisa anda, eles gostam de cobrar tanto, imagine
com o professor ganhando OITO MIL REAIS! Mas, tudo bem, com esse salário, há
que haver grandes exigências mesmo.
Além das belas palavras
ditas por nossos superiores hierárquicos cobrando aulas bem preparadas e bem
dadas, penso que o Estado poderia, pagando OITO MIL REAIS por mês, avaliar,
periodicamente, o professor. Essa avaliação seria necessária para perscrutar o
nível de conhecimento dos professores. Digo mais: depois de uns dez anos
pagando OITO MIL REAIS (com as devidas correções para evitar a corrosão pela
inflação), a permanência no serviço público deveria estar condicionada a tirar
boas notas nessas avaliações.
Em pouco tempo, as
escolas teriam quadros de professores bastante qualificados, o que, com
certeza, influiria decisivamente na tão sonhada melhoria da qualidade do ensino
público.
Se o aumento de salário
seria o suficiente para melhorar a educação? Obviamente que não. Mas isso é assunto
para o próximo bate-papo.
Elio Oliveira Cunha