domingo, 16 de agosto de 2009

Quem disser outra coisa estará mentindo

De vez em quando, me dá loucuras de pensar soluções para resolver os problemas deste nosso mundão. Ultimamente, tem me intrigado bastante o desmantelo que é a educação pública brasileira. Em todos os cantos e recantos desta Pátria amada. Não preciso exemplificar para se ter uma idéia de como é. Todo mundo sabe como o troço anda. E não venha querer me contradizer, dizendo que a coisa já andou pior e que, “devagarim”, como diz mineiro, estamos conseguindo avançar. O negócio anda mal. O que pretensamente avançamos significa pouco diante do que precisamos fazer. O desafio é garantir escola com educação de qualidade para todos. Como fazer isso?
Em época de campanha eleitoral, candidatos a cargos de prefeito, governador e presidente gostam de dizer que vão melhorar a educação. Se você quiser saber se algum deles está falando a verdade, é só perguntar: “Em sendo eleito, qual será o salário do professor de ensino fundamental e médio durante seu governo?”. Se ele disser qualquer valor abaixo de R$ 8.000,00 estará mentido. Mentindo que pretende melhorar a educação. Se realmente se pretende melhorar a educação neste país, um professor de educação básica não pode ganhar menos do que OITO MIL REAIS. Isso mesmo, OITO MIL REAIS, para uma carga horária de 40 horas, incluindo planejamento de dez horas, é claro. E olha que estou sendo modesto. Isso é só para começar. Alguém deverá estar dizendo: “Esse cara é um idiota, nem professor de universidade ganha isso!”. Se um professor de universidade não ganha esse salário, isso só vem a corroborar minha óbvia afirmação de que a educação realmente anda mal.
Por que o professor deve receber essa remuneração? Vejamos. Primeiro, ele precisa viver dignamente: casa, carro, conforto, comida, bugigangas eletrônicas, lazer, etc.; segundo, tem que sobrar dinheiro, no final do mês, para comprar bons livros, assinar duas ou três revistas, assinar um bom jornal, pagar a internet, assinar uma TV fechada para assistir, entre outras coisas, ao bom futebolzinho do sábado e domingo; terceiro, quando ele estiver na escola ensinando, não ficar preocupado com a dívida no mercadinho da esquina, com a energia elétrica que pode ser cortada a qualquer instante, etc., etc.; quarto, dinheiro é sempre bem-vindo.
E de que forma a melhoria no salário seria garantia de que a educação iria realmente avançar a passos largos? Mire e veja. O Estado, pagando um bom salário ao professor, tornaria cobiçada essa profissão. Quem não iria querer se formar, prestar um concurso público e ingressar na carreira do magistério? Com isso, haveria uma disputa por vagas nas universidades públicas para ingresso nos cursos da área da educação, o que melhoraria sensivelmente a qualidade do alunado que freqüenta esses cursos, melhorando, consequentemente, a qualidade dos cursos e, em seguida, a dos profissionais que chegam ao mercado de trabalho. Haveria, também, uma concorrência maior nos concursos públicos. Somente os feras conseguiriam passar.
Com uma boa remuneração, os professores que já são contratados teriam condições de investir mais em sua formação intelectual e pedagógica. Pagando bem, o Estado poderia exigir que isso ocorresse. Os técnicos responsáveis pelas cobranças, aproximando-se de um professor meio relapso, poderiam dizer, em alto e bom som, e não estariam errados: “O Estado está te pagando bem, meu chapa, portanto, agora você pode fazer pós-graduação, mestrado, doutorado, etc., e, outra coisa: não queremos mais saber de lero-lero em sala de aula”. Conhecendo bem os tais técnicos, acho que, nesse sublime instante, ao proferirem essas palavras, teriam um orgasmo pedagógico. Se do jeito que a coisa anda, eles gostam de cobrar tanto, imagine com o professor ganhando OITO MIL REAIS! Mas, tudo bem, com esse salário, há que haver grandes exigências mesmo.
Além das belas palavras ditas por nossos superiores hierárquicos cobrando aulas bem preparadas e bem dadas, penso que o Estado poderia, pagando OITO MIL REAIS por mês, avaliar, periodicamente, o professor. Essa avaliação seria necessária para perscrutar o nível de conhecimento dos professores. Digo mais: depois de uns dez anos pagando OITO MIL REAIS (com as devidas correções para evitar a corrosão pela inflação), a permanência no serviço público deveria estar condicionada a tirar boas notas nessas avaliações.
Em pouco tempo, as escolas teriam quadros de professores bastante qualificados, o que, com certeza, influiria decisivamente na tão sonhada melhoria da qualidade do ensino público.
Se o aumento de salário seria o suficiente para melhorar a educação? Obviamente que não. Mas isso é assunto para o próximo bate-papo.


Elio Oliveira Cunha

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